A evolução por trás da cara de tadinho

A estratégia evolutiva de cães para que humanos cuidem deles

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A evolução por trás da cara de tadinho

Ao longo de milhares de anos, dois novos músculos evoluíram ao redor dos olhos dos cães permitindo uma melhor comunicação com os humanos. Apenas uma linhagem de cão, o Husky Siberiano, mostrou não possuir um desses músculos faciais, coincidindo com o fato dessa linhagem ser uma das mais antigas que emergiram durante a domesticação. A conclusão veio após uma análise anatômica e comportamental comparativa entre cães e lobos.

Quando cães fazem o movimento popularmente chamado de "cara de tadinho", é aflorado um maior desejo nos humanos de cuidarem dos seus companheiros caninos. Isso fornece aos cães com essa capacidade, ao moverem suas sobrancelhas, mais uma vantagem adaptativa, favorecendo a fixação desse traço adaptativo após várias gerações. Para determinar a essência evolutiva desses movimentos carismáticos da sobrancelha, pesquisadores compararam de forma minuciosa e detalhada a anatomia facial e o comportamento de cães e de lobos-cinzentos.

Nos cães, os músculos responsáveis pelo movimento de subida da sobrancelha são bem definidos, enquanto nos lobos estão ausentes, substituídos por poucas fibras musculares irregulares. Isso sugere que esses músculos possivelmente também não existiam no ancestral comum entre o cão e o lobo, e essa hipótese é reforçada pela ausência dessa estrutura muscular no Husky Siberiano. Considerando que os atuais lobos-cinzentos e cães divergiram há cerca de 33 mil anos, a marcante emergência desse traço anatômico mostra o quão forte foi a influência da interação social entre canídeos e humanos no processo evolutivo dos cães domésticos.

Além da cara de tadinho fazer os olhos parecerem grandes, dando a eles uma aparência mais infantil e carismática, esse movimento também imita o movimento facial que humanos fazem quando estão tristes. Estudando o comportamento desses animais, os pesquisadores mostraram que quando expostos a um humano por dois minutos, os cães levantavam mais seus músculos associados às sobrancelhas e com maior intensidade do que os lobos, explicitando um esforço maior de comunicação.

Porém, esses músculos não são uma exclusividade de cães domésticos e não evoluíram como uma resposta evolutiva única a humanos. Essa característica também ocorre em mabecos e coiotes, e isso sugere que esse músculo emergiu cedo na evolução dos canídeos. Lobos-cinzentos podem ter perdido esse traço porque se comunicam preferencialmente através de vocalizações a longa distância, algo que é menos importante para outros canídeos (todos animais muito sociais).