Mpox e Evolução: o que uma coisa tem a ver com a outra?
A evolução do vírus mpox
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Mpox e Evolução: o que uma coisa tem a ver com a outra?
O que é a Mpox?
A Mpox, anteriormente conhecida como varíola dos macacos, é uma doença causada pelo vírus mpox, do gênero Orthopoxvirus. Os sintomas da Mpox são, em geral, feridas na pele, ínguas (inchaços nos linfonodos), febre, dor de cabeça, calafrios, fraqueza e dores no corpo. A doença foi observada inicialmente em macacos em laboratório. Considerada uma zoonose, uma doença que pode ser transmitida entre animais e humanos, hoje em dia os estudos apontam que os animais mais suscetíveis à enfermidade, na verdade, são os roedores.
O primeiro registro de Mpox em humanos foi feito em 1970 em uma criança na República Democrática do Congo. Ao longo da história conhecida da enfermidade, casos de infecções em humanos foram quase sempre através do contato com um animal infectado, em sua maioria afetando crianças, e a doença foi considerada endêmica da África Ocidental e da África Central. Porém, desde 2017, a Nigéria observa uma maioria absoluta de casos afetando adultos. Já em 2022, várias partes do mundo vivenciaram um rápido crescimento de infecções de Mpox na população, incluindo em pessoas com nenhum registro de viagens internacionais para regiões onde a doença é endêmica, o que demonstra que o vírus passou a ser transmitido de humano a humano.
Por conta da alta nos casos de Mpox dentro e fora da região onde a doença é endêmica, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a Mpox, em 2022, uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII). O alerta foi suspenso em maio de 2023, mas em agosto de 2024 a OMS voltou a declarar a Mpox como uma ESPII. Agora que já temos um contexto do que é a Mpox, vem a grande questão, o que tudo isso tem a ver com a evolução? A resposta simplificada é de que todas as mudanças observadas na doença e na transmissão são resultantes da evolução acontecendo, constantemente, no vírus Mpox.
O vírus Mpox é um vírus que possui seu material genético no formato de DNA fita dupla, sendo um vírus grande (para os padrões de vírus). Por isso, é esperado que sua taxa de mutação seja baixa, porém, não é isso que vem acontecendo. Estudos apontam para uma alta taxa de mutações no vírus, formando inclusive diversas novas linhagens, mutações essas que foram observadas desde 2017 e principalmente desde a epidemia de 2022. Mas se esse é um vírus que deveria ter uma baixa taxa de mutação, e consequentemente ter uma evolução mais lenta quando comparado a outros vírus, o que está acontecendo com o Mpox? A maior suspeita do que poderia estar acontecendo com o Mpox é a boa e velha Seleção Natural.
Uma das principais defesas do corpo humano contra esse tipo de vírus é uma enzima do sistema imunológico, APOBEC3, que causa mutações no material genético do vírus, inativando-o. Porém, há evidências de que parte dos vírus Mpox com mutações causadas pela APOBEC3 permanece viável, continuando sua replicação e transmissão, pois a grande maioria das mutações observadas no material genético das novas linhagens do vírus são, muito provavelmente, causadas por essa enzima. Portanto, essa defesa do sistema imunológico parece estar atuando como uma “faca de dois gumes”. Por um lado, pode inativar os vírus, mas, por outro, pode ser a causadora de mutações novas que estão levando à origem de novas linhagens do vírus, entre elas, algumas potencialmente favorecidas pela seleção natural. Enfim, a resposta curta é que é a evolução acontecendo, mas a resposta longa não é muito mais interessante?