Niède Guidon

Quem foi Niède Guidon, arqueóloga brasileira, 1933-2025

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Quem foi Niède Guidon?

12/04/1933 - 04/06/2025

Niède Guidon foi uma arqueóloga brasileira, com dupla cidadania francesa e brasileira, nascida em 1933 na cidade de Jaú, no estado de São Paulo. Ela se formou em História Natural pela Universidade de São Paulo (USP) em 1959, e obteve seu doutorado em Pré-História em 1975 na Universidade de Sorbonne, na França. Ela ficou conhecida pelo seu trabalho no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, e por ajudar a revolucionar o entendimento da presença humana no continente americano.

Niède tomou conhecimento das pinturas no começo da década de 1960, porém só pode visitar a região pessoalmente pela primeira vez na década de 1970. Com o início da ditadura militar no Brasil, em 1964, ela estava na mira do regime militar por ser uma militante de movimentos políticos de esquerda na USP, o que a fez ir apressadamente para a França, utilizando um passaporte francês.

No início da década de 1970, Niède atuava como professora e pesquisadora em Paris, e em 1973 o governo francês financiou a vinda de Niède e sua equipe para a Serra da Capivara, quando iniciaram as pesquisas. Estabelecida no Piauí, iniciou uma missão arqueológica para estudar a pré-história na região, fundou o Museu do Homem Americano e liderou esforços conservacionistas, o que levou à criação do Parque Nacional da Serra da Capivara em 1979, reconhecido como Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, e do Parque Nacional da Serra das Confusões em 1998.

Durante sua liderança na pesquisa arqueológica na região, Niède e seus colaboradores descobriram mais de 800 sítios pré-históricos com indicações de presença humana na Serra da Capivara, sendo mais de 600 deles com pinturas rupestres, além de artefatos como pedras lascadas, cerâmica e vestígios de fogueiras, caracterizando milhares de anos de ocupação humana na região. O trabalho de Niède Guidon trouxe à luz a presença humana no Brasil anterior à cultura Clóvis nos EUA, que era então considerada a mais antiga da América, gerando grande polêmica na comunidade acadêmica internacional, o que, entretanto, seria amplamente confirmado mais tarde.

Parte dos resultados dos estudos de Niède Guidon permanece controversa até hoje, como supostos vestígios humanos de dezenas de milhares de anos na Serra da Capivara que, como é normal na ciência, ainda são alvo de interpretações alternativas ou inconclusivas. O que é inegável, entretanto, é a habilidade que Niède teve de fazer a comunidade científica duvidar de suas certezas. Niède Guidon morreu aos 92 anos, em 4 de junho de 2025, em sua casa em São Raimundo Nonato, onde vivia desde o início do seu trabalho na Serra da Capivara, deixando um enorme legado científico, social, cultural e para a conservação ambiental e arqueológica.